segunda-feira, 28 de março de 2011

Vencido

Eu queria muito um iogurte! Muito mesmo. Estava com fome, mas com sede ao mesmo tempo. E com pressa. um iogurte resolveria as minhas necessidades naquele momento. Não custava nada dar uma olhada na geladeira. Minha mãe sempre diz que eu não vejo as coisas que ficam na geladeira e elas acabam estragando. Fiz o curto trajeto da sala até minha geladeira rezando e minhas preces foram atendidas: uma única garrafinha me aguardava atrás do pote de margarina. Peguei rápido e numa ação impensada e totalmente mecânica, dei uma espiada nas incrições que vêm na tampinha metálica. Antes não o tivesse feito. O prazo de validade indicava que o meu néctar estava impróprio para o consumo na então presente data. Pensei em aceitá-lo assim mesmo. Afinal, tratava-se de um desejo muito forte! 

Minha avó costuma lembrar que no tempo dela, a decisão de quando um produto vencia era de quem queria consumí-lo. Por que não dar uma chance ao meu iogurte? Podia ser que ele ainda estivesse docinho, saudável e delicioso. Podia ser que ele causasse uma dorzinha de barriga mais tarde. E talvez eu estivesse disposta a passar por isso, mas podia ser também que meu estômago não estivesse preparado pra receber um negócio estragado. O fato é que eu não ia saber se não tentasse.


Decidi não tomar. Dessa vez o que eu deveria fazer estava escrito e é tão difícil fazer escolhas que resolvi acatar o que a tampinha me dizia e pronto. O problema é que nem tudo na vida vem com o prazo de validade apesar dele invariavelmente existir. Se tem uma coisa que eu aprendi com gente mais esperta que eu é que tudo na vida é temporário. Qualquer coisa que começa tem seu fim. 

De vez em quando, a gente tem uma ideia de quando vai terminar: o curso, um projeto, o campeonato de futebol, a novela. O resto a gente tem que se virar pra prever- como minha avó fazia antes de usar o leite no molho. Saber a hora de pedir o aumento antes que o outro assistente tenha a mesma ideia, de comprar um carro enquanto os itens opcionais estão em promoção ou adotar um cachorro aproveitando o humor de quem mora com você já são ações mais arriscadas e errar na validade pode ser fatal.

Depois disso tudo dito, se eu pudesse sugerir um aspecto com o qual as pessoas devessem ser mais precavidas, seria com as coisas que não têm validade escrita, mas que sabemos estar vencidas e mesmo assim insistimos em consumir. Assim como meu iogurte, é preciso saber a hora de jogar as coisas fora - tudo na vida é temporário, quero novamente ressaltar! - elas não valem mais! Estão vencidas. Vencidas pelo cansaço, vencidas pelo tempo de uso, vencidas por algum outro ganhador.

Não existe uma forma segura de determinar que um produto possa causar algum mal. Tampouco há forma segura de garantir a validade de uma briga, uma relação, um sentimento.
Eu queria muito o meu iogurte, mas jogá-lo fora não foi tão penoso quanto outras coisas que tive que descartar por estarem com o prazo de validade vencido.

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