Até que numa terça-feira outonal, com cara de segunda infernal, toca meu celular. Silenciei a ligação e continuei o que estava fazendo. Mais tarde ligaria de volta. O celular tocou de novo. É meu pai. Deve ser importante. Atendo. A voz dele não é de preocupação, tampouco de muita alegria. E desse jeito meio blasé, ele me diz:
- Chegou aqui um livro do Ricardo Kotscho para você.
Quem teria mandado para o meu pai um livro do Ricardo Kotscho endereçado a mim? Foi o que perguntei, ao que meu pai respondeu:
- Ele mandou. Fez até dedicatória.
- Para, pai. Sério. Sério? Lê pra mim! Qual livro que é? Que sensacional!
- Ele escreveu: "Para minha colega Júlia, que escolheu a melhor profissão do mundo! Algumas histórias de um velho repórter. Força! Coragem! Beijo do Ricardo."
- ...
- Filha?
- Fiquei sem palavras. Obrigada, pai. Tô muito feliz.
O que Ricardo Kotscho não sabe é que na noite anterior eu sonhei que estudava medicina e acordei com raiva de ter feito jornalismo (ciências biológicas nunca foram uma opção, só para esclarecer). Isso, de sentir rancor pela profissão me incomodou, é claro. O dia de trabalho não tinha perspectiva nenhuma, nem vontade de ser dia, ele tinha.
De repente, denomino de alegria o que eu senti. Alegria de criança, que sempre é pega sorrindo sem motivo.Nada do que ninguém me falasse sobre o prazer de ser jornalista mudaria o que eu estava pensando, a não ser que fosse o Papa, ou sei lá, a Cristiana Lôbo ou o Ricardo Kotscho. (risos.)
Desculpe signo de virgem, desculpem livros da fila, desculpe livro que estou lendo agora (que nem vou revelar a identidade para não ofender). 'Do Golpe ao Planalto — Uma Vida de Repórter' passou na frente e começará a ser lido hoje mesmo.
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